Toda
criação perdera a certeza do brilho. Todo animal rosnava sofrimento. Toda árvore
gemia de dor. Toda ave trinava desamor. Uma torturada e lenta sensação de tudo.
Eis que eu sentia o fundo do sentir. Dor antiga atingira meu peito nesta hora
em que tudo dorme. Oh, silêncio, eu te saúdo, rendido ao teu domínio. Oh, véu
puro da noite, eu te saúdo, teu fulgor é a vivência. Até fingi ser livre, mas
minha alma violada era presa em uma fina fumigação do pensamento. Foi num
domingo, sentando a beira de um rio, que meu coração parou. Primeiro ele
enfraqueceu seu ritmo, e pouco a pouco foi parando de bater. Parei de respirar.
O corpo estremeceu por completo. Senti-me sufocado. A negritude da morte
encobriu tudo em minha volta. Onde é que estava a vida? Tudo estava sobrando
agora. Meu corpo magríssimo, de pernas cumpridas. As mãos suadas, e os olhos
entreabertos. Onde é que eu existo agora? Se não para fora de mim. Onde a
sensação ultrapassa tudo. Onde o corpo perdera o sentido. E sem sentido nada
encontra motivo. Oh, silêncio, eu te saúdo, rendido ao teu encanto. Entre mim e
você existe a calma. Uma infinita calma. Existe a infinita jornada muda e tola
que o pensamento encobre. Existe o que guardei das manhãs cinzentas. Existe a
chuva fina que envolvera minha existência. Então o meu corpo esvai-se. A pele
esquece-se do prazer que é a vida. E agora minha alma existe onde há a frieza e,
o vazio do fim. Sem contorno o sentimento não vale nada. E sem a vida muito
menos. O que é mesmo viver? Esqueci-me da calma. Ela é uma criança que chora. Um
susto da existência do que fui. Uma claridade, a realidade, do que agora eu
sou. Minha alma antagonista venceu o corpo. Corpo que nunca foi meu. Corpo que
ali continuara na beira do rio, que no contato com a terra se desfará em pó. Em
mim tudo secou. Porque é no fim que descobrimos que nascemos para morrer.
®
Thiago França Bento/2015.
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