domingo, 24 de janeiro de 2016

Formosa Ausência.

Não! Eu não estou calmo! A calma é virtude dos sossegados. Eu sinto toda expressão melancólica que passo através da minha imagem. Sinto o frio, a cena muda do céu azul, a aurora que raiou silenciosa, do mármore frio da noite. E sentindo, sinto o movimento desolado das ondas do mar. À enfermidade já vem vindo, e a tua ausência fez com que as flores do meu pensamento murchassem. A tua ausência fez onda no meu mar. A praia que eu imaginava era por aqui... Eu ainda sinto a areia quente na sola dos meus pés. O vento fresco enfunando o meu peito. Eu estava apaixonado pela vida. Eu estava apaixonado pela vida, por causa de você! Não! Eu não tenho sentido mais nada que seja útil! O que eu sinto é a tua ausência. A perda da paz em flor. E se eu morresse agora? Todo o amor certamente teria outro fim! Mas não há a possibilidade da morte, ela está tão longe quanto você. Disfarçando a minha melancolia, no meio o túmulo da ausência, a misteriosa espera isolada, eu sinto saudade. Amar é como ninar a alma na beira de um precipício, é a sensibilidade no escuro só esperando a hora da queda.

® Thiago França Bento.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

O sol não brilhou está manhã/

Ergui-me sonolento. Ouço o cachorro anunciar, com um choro lamentável, a chegada silenciosa de quem nunca repartiu nada comigo. Fui até ao banheiro, ergui a tampa do vaso para urinar. Geralmente não preciso levantar a tampa do vaso para usá-lo, ela sempre está erguida. De fora do banheiro sinto-me observado. O som quer sair, mas o silêncio ganha, o silêncio sempre ganha. Eram dez horas da manhã. O telefone toca. Apresso-me para atendê-lo. – Alo? – não é aqui não, senhora, é engano. Era engando, toda vez é engano. A perda considerável de expectativas vem crescendo, no entanto o meu comportamento tem sido verdadeiro. Meu sentimento, vez e outra, quer ser o motivo para justificar o fato de eu não sentir o gosto do café na minha boca.


® Thiago França Bento.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

Primícias do Sono.

Fito ininterruptamente a xícara com o café ainda muito quente. Dois cigarros ainda restam no maço. Sem hesitar acendo um dos cigarros e uma forte sensação de devaneio percorre essa minha malícia frustrada das manhãs de domingo. E ao ponto de não entender os passos – o caminho percorrido secretamente pela minha perdida imaginação – ouço o canto permanente dos pássaros. Os pássaros que canta suave o raiar do dia. Não compreendendo o meu estado físico e, meio moribundo, de uma manhã de domingo impregnada pela neblina seca, que cobre tudo lá fora. Ouço em silêncio o canto dos pássaros, e a batida muito lenta do meu coração. Eu estou cansado, talvez mais cansado do que estava há alguns minutos atrás. Não consegui dormi nas últimas 19 horas seguidas. Ontem o dia passou sonolento e pesado. A noite adentrara suave e muito nítida em meu âmago sossegado, e tímido. O que resta para mim nesta manhã solitária é essa imagem seca da neblina encobrindo tudo. O dia parece que será tácito e, o meu instinto rotineiro busca um plano perfeito para compreender a alma do universo estabelecido na natureza humana que há nas coisas. Não sinto o vento correr. Tudo está pálido e parado lá fora. Ainda agora o perfume da morte ventilara nos ares secretos do meu quarto. Quão tola minha existência, pois que até a morte a ignora. Acho que finalmente vou dormir, mas antes fumarei o último cigarro, e tomarei o café, que está na xícara.

® Thiago França Bento.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Enfeite Solitário.

Embora eu esteja só começando minha caminhada pela vida eu estou tão cansado que esse começo tem vestígios do fim. É como a mudança dramática da cor viva de um camaleão perdendo o lúdico a fé, e a esperança. O acumulo paradoxo nos 23 anos de idade, sem culpa nem remorso. São muitos personagens no inconsciente turvo do dia em desatino; eu sou como um conjunto de livros guardados na gaveta de um armário, esquecido há tempo. Eu trabalho o cansaço que tenho na ideia, na constante chuva fina que cai sobre os meus ombros. Eu estou mais encharcado como nunca fiquei estado antes. É a vida em seu ensaio rustico fodendo os meios cognatos. O sono dos dias provocando ruídos, eu não sei se sinto ou se ouço essa música gravada somente na memória dura dos meus medos. A cor ainda rubra das cicatrizes marcadas na minha pele crua – nula – gritando o alfabeto da minha alma nua. Tudo é como um rio que passa no seu sentido peregrino coletando sonhos, que é a crença inventada do sono. Curtindo solenemente a investida do tempo, sussurro os verbos recorrentes a essa caminhada enfastiada de prosa, e sedenta pelo alivio da chegada. Eu tenho razão eu estou cheio de razão, e a razão é uma flor nascida clandestina em meu peito fechado e esquecido. A pétala superior da consciência guardada em meu leito celeste, seu aroma semeia um perfume angelical, um perfume vernal, que preenche a aurora do meu jardim juvenil, a flor é a estação universal do meu corpo. Mesmo que eu esteja só começando a rotina dos meus dias, a mão pesada da realidade cai sobre minha cabeça, e nesses dias sem consolo, tudo vai perdendo o encanto no fundo dos meus olhos entreabertos – pesados – por conta do delírio contínuo que trago comigo. Eu estou concentrado na sobrevivência. Eu estou indo de encontro ao futuro esticado em um horizonte marcado para ter um fim. E por falar em fim, eu termino aqui o fado entediado de enfeitar aniversários.


® Thiago França Bento/Para o dia 09, de todo Dezembro.