quinta-feira, 18 de junho de 2015

A ficção da palavra.


Um escritor corrupto, de ideias corruptas e de alma corrupta. Um poeta que nada tem de amor – que chora a dor de lembranças que se embaraçam dentro da alma que vaga sem destino. Um poeta pagão que nada tem de fé nas santas palavras que dilacera sem sentido ou justificativa.

Minha alma solitária trás um vestígio de saudade, de um tempo não vivido, de uma vida não vivida – sendo uma vida vazia. Vem-me esse arrepio de não saber o que fazer comigo, e quando estou em mim, nada tenho com a razão. Vem à saudade e a vontade na contramão. Rio, um riso desassossegado de mentiras que me vem disfarçada de alegria para enganar meu coração, uma saudade que mata muito antes do que se pode imaginar. Escrevo uma escrita descontrolada tentando dar ritmo ao que está sem controle em mim, sou eu que estou mais sem controle agora, sem vida e sem a dignidade de um humano melhor.

O que tenho eu com eles? Que nada tem eles com a realidade, a minha realidade tarde em um conforto que o meu coração deseja, e eles de corações vazios enganam-se como miseráveis e ridículos – que o são. Ridículos na ação de quererem enganar-se fingindo sentir uma satisfação. Mas minha alma justificativa também é ridícula, e que nela nada eu justifico. Meu coração não se desliga – minha mente não para – estou a morrer aos poucos, não tenho salvação.

Talvez eu espere a reconciliação vulgar dos fatos que me levam a ser descontrolado quando estou dentro de mim; talvez minha rotina esteja a me consumir e a me por em prova do ridículo diante dos meus sentimentos que vagão em busca de um perdão. Minha alma canta um canto de desamor, uma ingratidão que trago dentro das minhas lembranças enternecidas na desilusão que sofrera meu coração. Por isso não me recomponho – por isso nunca me reconheço dentro do que sou. Sou diferente dos homens que passam por mim pela rua, sou diferente de todos eles; cada qual tem sua nítida certeza de serem exatos no que fazem, eu nada tenho de exatidão. Não conduzo nem mesmo as palavras que trago comigo, não ouso nunca conduzi-las.

Tenho o medo, a negritude da natureza do medo, o medo incomunicável de ser o que por predestinação já sou. Esquecendo-me de tudo a minha volta. Agora vem o intervalo para o cigarro e a xícara de café; saiu de mim o eixo dos sentimentos que trazia, e nunca mais consigo voltar a ser o que era.

® Thiago França Bento.
Imagem: Ivan Alifan/

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